Nem tudo foram flores no mundo mágico da Disney
A Disney é uma das maiores e mais influentes empresas de entretenimento do mundo. No entanto, ao longo de seus 100 anos de história, a companhia também enfrentou diversas polêmicas, envolvendo questões sociais, políticas, trabalhistas e artísticas. Neste artigo, vamos relembrar alguns dos episódios mais controversos que envolveram a Disney e seus criadores.
Sumário
A história que poucos lembram
A Disney foi fundada em 16 de outubro de 1923, em uma garagem alugada em Los Angeles nos Estados Unidos, por Walt Disney e seu irmão Roy Disney. Os dois começaram produzindo curtas-metragens de animação, mas logo enfrentaram dificuldades financeiras e perderam os direitos de sua primeira criação de sucesso, o coelho Oswald.
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Foi então que Walt criou o personagem que mudaria sua sorte: o camundongo Mickey Mouse. O sucesso de Mickey levou a Disney a produzir o primeiro longa-metragem de animação sonoro e colorido da história, “A Branca de Neve e os Sete Anões”, em 1937. O filme foi um fenômeno de bilheteria e crítica, e inaugurou a era de ouro da animação da Disney, que lançou clássicos como “Pinóquio”, “Fantasia”, “Dumbo” e “Bambi” nos anos seguintes.
Racismo e estereótipos
Um dos temas mais delicados que envolvem a Disney é o racismo e o uso de estereótipos negativos em suas obras. Desde os primeiros filmes, como “Branca de Neve e os Sete Anões” (1937) e “Dumbo” (1941), até produções mais recentes, como “Aladdin” (1992) e “Mulan” (1998), a Disney foi acusada de retratar personagens não-brancos de forma preconceituosa, caricatural ou ofensiva. Vamos relembrar alguns exemplos onde foi possível ver isso acontecendo:
- Os corvos de “Dumbo”, que falam com sotaque sulista e usam gírias afro-americanas, sendo considerados uma representação racista dos negros nos Estados Unidos.
- O personagem Tio Remus de “A Canção do Sul” (1946), que é um ex-escravo que conta histórias folclóricas para crianças brancas, sendo visto como uma apologia à escravidão e à segregação racial.
- Os índios de “Peter Pan” (1953), que são retratados como selvagens, ignorantes e violentos, além de cantarem uma música chamada “What Makes the Red Man Red?” (O que faz o homem vermelho vermelho?), que reforça estereótipos sobre os povos nativos americanos.
- Os gatos siameses de “A Dama e o Vagabundo” (1955), que têm olhos puxados, dentes pontudos e sotaque asiático, sendo considerados uma ofensa aos asiáticos.
- O mercador árabe de “Aladdin”, que diz na música de abertura: “É bárbaro, mas é o lar” (It’s barbaric, but hey, it’s home), sugerindo que o Oriente Médio é um lugar atrasado e violento.
- Os hunos de “Mulan”, que são retratados como monstros deformados e cruéis, sem nenhuma característica humana ou cultural.
Em resposta às críticas, a Disney tentou se adaptar aos novos tempos e promover a diversidade e a inclusão em suas obras. Alguns exemplos são:
- A remoção ou alteração de cenas consideradas racistas ou ofensivas em filmes antigos, como “A Canção do Sul”, “Dumbo”, “Fantasia” (1940) e “Aristogatas” (1970).
- A criação de personagens protagonistas não-brancos em filmes como “A Princesa e o Sapo” (2009), “Moana” (2016) e “Raya e o Último Dragão” (2021).
- A inclusão de personagens LGBTQIA+ em filmes como “Frozen: Uma Aventura Congelante” (2013), “Procurando Dory” (2016) e “Luca” (2021).
- A contratação de diretores, roteiristas e atores não-brancos para trabalhar em filmes como “Pantera Negra” (2018), “Soul” (2020) e “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” (2021).
No entanto, apesar desses esforços, a Disney ainda enfrenta acusações de racismo, whitewashing (embranquecimento) ou tokenismo (representação superficial) em algumas de suas obras. Alguns exemplos são:
- A escolha da atriz Halle Bailey para interpretar Ariel no live-action de “A Pequena Sereia” (2023), que gerou reações negativas de alguns fãs que alegaram que a personagem deveria ser branca e ruiva, como na animação original.
- A mudança da etnia de personagens como Li Shang em “Mulan” (2020) e Príncipe Eric em “A Pequena Sereia” (2023), que foram substituídos por atores de origens diferentes das dos personagens originais, gerando críticas de falta de fidelidade ou de diversidade forçada.
- A redução do tempo de tela ou da importância de personagens não-brancos em filmes como “Star Wars: A Ascensão Skywalker” (2019) e “Viúva Negra” (2021), que foram acusados de apagar ou marginalizar personagens como Finn, Rose Tico e Yelena Belova.
Conflitos trabalhistas e direitos autorais
Outro tema que gerou polêmicas na história da Disney foi o conflito entre os trabalhadores e os donos da empresa, envolvendo questões como salários, condições de trabalho, direitos autorais e reconhecimento. Alguns exemplos são:
Greve de 1941
A greve dos animadores de 1941, que durou cinco semanas e envolveu cerca de 300 funcionários que reivindicavam melhores salários, benefícios e sindicalização. A greve foi apoiada pelo Congress of Industrial Organizations (CIO) e pelo Screen Cartoonists Guild (SCG), mas enfrentou a resistência de Walt Disney, que se recusava a negociar com os grevistas.
A greve terminou com a intervenção do National Labor Relations Board (NLRB), que obrigou a Disney a reconhecer o sindicato e a conceder aumentos salariais e outros benefícios aos trabalhadores. No entanto, a greve deixou sequelas na relação entre Walt Disney e seus animadores, que passaram a ser vistos como traidores ou ingratos pelo fundador da empresa.
Direitos Autorais
A disputa pelos direitos autorais de Mickey Mouse, que começou em 1976, quando o Congresso dos Estados Unidos estendeu o prazo de proteção dos direitos autorais de 56 para 75 anos, impedindo que o personagem entrasse em domínio público em 1984. A Disney foi uma das principais defensoras dessa mudança, que ficou conhecida como “Lei Mickey Mouse”.
Em 1998, o Congresso voltou a estender o prazo de proteção dos direitos autorais para 95 anos, adiando a entrada de Mickey Mouse em domínio público para 2024. Essa nova mudança ficou conhecida como “Lei Sonny Bono”, em homenagem ao cantor e político que propôs a lei.
A Disney foi novamente uma das principais apoiadoras dessa mudança, que foi criticada por defensores do domínio público, que acusaram a empresa de monopolizar a cultura e impedir a criatividade.
Créditos de Stan Lee
A briga pelos créditos de Stan Lee, que ocorreu em 2023, quando a Disney lançou um documentário sobre o lendário quadrinista da Marvel no Disney+. O documentário foi acusado de ignorar ou minimizar o papel de outros criadores que trabalharam com Stan Lee na criação de personagens como Homem-Aranha, Quarteto Fantástico, X-Men e Vingadores.
Entre eles, estava Jack Kirby, considerado um dos maiores artistas da história dos quadrinhos, que teve uma longa parceria com Stan Lee, mas também uma relação conflituosa por questões de crédito e direitos autorais. O filho de Jack Kirby, Neal Kirby, criticou o documentário da Disney e disse que seu pai foi “apagado” da história da Marvel.
Processos contra a Disney
Art Babbitt x Disney
Art Babbitt foi um dos principais animadores da Disney, responsável por criar o personagem Gênio para o filme “Aladdin”, de 1992. Ele processou a Disney por violar seus direitos autorais sobre o Gênio, alegando que ele não recebeu os créditos nem os royalties pela sua criação. O processo foi resolvido fora do tribunal em 1993, com um acordo confidencial entre as partes.
A.A. Milne x Disney
A.A. Milne foi o autor dos livros infantis sobre o Ursinho Pooh, que foram publicados entre 1926 e 1928. Sua família licenciou os direitos dos personagens para a Disney em 1961, por um valor fixo e uma porcentagem dos lucros. Em 1998, a família processou a Disney por não pagar os royalties devidos pelos produtos derivados do Pooh, como brinquedos, roupas e videogames. O processo durou mais de uma década e foi encerrado em 2009, quando um juiz decidiu a favor da Disney.
Pixar x Disney
Pixar foi uma empresa de animação fundada em 1986, que se tornou parceira da Disney em 1991, produzindo filmes de sucesso como “Toy Story”, “Monstros S.A.” e “Procurando Nemo”. Em 2004, a Pixar rompeu sua parceria com a Disney após desentendimentos sobre os lucros dos filmes que produziram juntas. A Pixar acusou a Disney de subestimar as receitas e de querer controlar as sequências dos filmes da Pixar. A Disney tentou comprar a Pixar nessa época, mas não conseguiu. Em 2006, a Disney comprou a Pixar por US$ 7,4 bilhões (R$ 37,1 bilhões em conversão direta), tornando-se sua subsidiária.
Scarlett Johansson x Disney
Scarlett Johansson é a atriz que interpreta a personagem Viúva Negra nos filmes da Marvel, que pertence à Disney. Ela processou a Disney em 2021 por lançar o filme “Viúva Negra” simultaneamente nos cinemas e no streaming, o que prejudicou seu contrato baseado na bilheteria. Johansson alegou que a Disney violou seu contrato ao lançar o filme em sua plataforma de streaming Disney+, onde poderia ficar com as receitas para si mesma e aumentar o número de assinantes. A Disney negou as acusações e disse que cumpriu o contrato e que Johansson recebeu US$ 20 milhões (R$ 100.285.000,00 na conversão direta) pelo filme. O processo ainda está em andamento.
Crises financeiras e políticas
Um terceiro tema que envolveu polêmicas na trajetória da Disney foi o enfrentamento de crises financeiras e políticas que ameaçaram a sobrevivência ou a reputação da empresa. Todas elas tiveram um impacto direto e poderia ter causado a ruína do Império Disney.
A crise dos anos 80, que foi um período de baixa criatividade e lucratividade da Disney, marcado por filmes fracassados, tentativas de aquisição hostil, demissões e conflitos internos. A empresa só conseguiu se recuperar com a chegada de novos executivos, como Michael Eisner e Jeffrey Katzenberg, que investiram em novas áreas, como televisão, parques temáticos e filmes live-action.
A crise política na China, que envolveu a censura e o boicote aos produtos da Disney por parte do governo chinês, após a empresa ter produzido o filme “Kundun”, de 1997, que retratava a vida do líder espiritual tibetano Dalai Lama. A Disney teve que se desculpar publicamente e negociar com as autoridades chinesas para poder entrar no mercado do país, que é um dos mais lucrativos do mundo.
A crise do coronavírus, que afetou profundamente a Disney em 2020 e 2021, causando o fechamento temporário ou permanente de vários parques temáticos, cinemas, lojas e cruzeiros, além de provocar atrasos e cancelamentos de produções cinematográficas e televisivas. A empresa teve que se adaptar à nova realidade, apostando no serviço de streaming Disney+ e no lançamento simultâneo de filmes nos cinemas e na plataforma digital.
Disney quer “acalmar o barulho” nas guerras culturais, diz CEO
Mediante a essas polêmicas ocorridas durante esses 100 anos, o CEO da Disney, Bob Iger, disse aos investidores que a empresa vai “acalmar o barulho” nas guerras culturais e se concentrar em sua missão principal: entreter e ter um impacto positivo no mundo.
A declaração de Iger foi feita em uma apresentação aos investidores na terça-feira (20), egundo o site Reutters, no Walt Disney World Resort, em Orlando, na Flórida. Na ocasião, ele também anunciou que a Disney vai dobrar seu investimento em parques temáticos e cruzeiros na próxima década.
A empresa pretende expandir seus negócios em mercados emergentes, como China, Índia e Brasil, e aumentar sua presença digital com o serviço de streaming Disney+. Levando seu conteúdo a mais pessoas e com mais acessibilidade.
No entanto, a expansão global da Disney também traz desafios e conflitos. A empresa tem sido alvo de censura e boicote de alguns países que rejeitam ou proíbem conteúdos que contenham personagens ou cenas LGBTQ+, conforme mencionamos acima.
Além disso, a Disney tem enfrentado polêmicas internas nos Estados Unidos, onde se envolveu em uma batalha legal com o governo da Flórida, que tentou interferir nas políticas de diversidade e inclusão da empresa.
O governador Ron DeSantis acusou a Disney de ser “woke” e de apoiar o ensino de temas sensíveis nas escolas, como orientação sexual e identidade de gênero. A Flórida também tentou tirar da Disney a autoridade sobre o desenvolvimento dos parques temáticos no estado.
Diante dessas polêmicas, Iger disse que a Disney não vai se deixar levar pela agenda alheia e vai focar em sua missão principal: entreter. Ele afirmou que a empresa não é ideológica e que busca criar conteúdos que reflitam a diversidade e a criatividade do mundo. Ele também disse que a empresa vai investir em novas áreas, como televisão, parques temáticos e filmes live-action.
A declaração de Iger pode ser vista como uma tentativa de apaziguar os ânimos e de evitar mais conflitos com os grupos conservadores. No entanto, também pode ser vista como uma forma de escapar das responsabilidades sociais e éticas que uma empresa do tamanho e da influência da Disney tem. Afinal, a Disney não é apenas uma empresa de entretenimento, mas também uma formadora de opinião e cultura. Suas escolhas têm impacto na sociedade e no mundo.
Portanto, a questão é: até que ponto a Disney pode “acalmar o barulho” nas guerras culturais sem comprometer seus valores e sua qualidade? Será que a empresa vai conseguir equilibrar seus interesses comerciais com seus compromissos sociais? Será que a empresa vai continuar a inovar e a surpreender seu público com suas criações? Essas são perguntas que só o tempo e as ações da Disney poderão responder.
Perguntas e Respostas
Nossa sessão mais requisitadas está com tudo! Hoje trazemos para vocês as perguntas mais buscadas sobre a Disney na internet.
Quais são os personagens mais famosos da Disney?
Alguns dos personagens mais famosos da Disney são Mickey Mouse, Minnie Mouse, Pato Donald, Pateta, Pluto, Branca de Neve, Cinderela, Bela, Ariel, Simba, Aladdin, Elsa, Moana, Woody, Buzz Lightyear e muitos outros.
Existem quantos parques temáticos da Disney?
Existem 14 parques temáticos licenciados pela Disney em todo o mundo, sendo seis nos Estados Unidos, dois na Europa, quatro na Ásia e dois na América Latina.
Qual é o filme que mais obteve bilheteria da Disney?
Vingadores: Ultimato (2019) – US$ 2.797 bilhões
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